quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Bobby McGee

The boy's a time bomb

Drunk by Ed Sheeran on Grooveshark


Ele reclamava da rotina, mas já não sei dizer se tinha medo dela. Sobreviver a dias iguais não era o seu forte. 
Queria barulho o tempo todo, queria shows do The Clash, mas nascerá na época errada. 
Podia passar pelas mesmas ruas todos os dias, mas cada vez passava diferente. 

Roupas rasgadas e tênis sujos, cabelo desarrumado e o copo sempre cheio. Nos dias que não haviam festas o mundo parecia mais sério. 

Vivia sem sequência e sempre estava em algum lugar diferente. Não entendia como a vida conseguia seguir por tantos anos com os dias sendo os mesmos.

Pelos dias de calor não tinha muito apreço e nem gostava de ficar muito tempo em casa. Passava mais tempo fora do que conseguia calcular.


Queria fazer tantas coisas, talvez até escalar uma montanha ou chegar ao fundo do mar. Queria viver a vida como se ela fosse acabar a qualquer momento, mas que de algum jeito durasse para sempre. 

Todos os dias acordava cedo para trabalhar, mas se segurava na esperança de um dia ter a mesma coragem que Alexander Supertramp teve, mas sem o final triste. 

Ele podia se passar por só mais um, mas jamais seria igual. 
Sentia saudade do que nunca viveu e dos lugares onde nunca foi.
Teria dançado na lama do Woodstock e cantado ao som de Jimi Hendrix se a chance lhe tivesse sido dada, mas sua idade só lhe permitiu a nostalgia dos lugares onde sonhou muitas vezes estar.


Ele era assim, tão previsível quanto a tempestade por chegar.
Você dificilmente iria cruzar com ele por seus caminhos, mas de algum jeito iria conhece-lo.

The boy comes and go. Se desse sorte teria uma boa trilha sonora ou dias sem assunto. 
Se desse azar, pelo menos ele nunca prometeu ficar.



Ele fazia piadas sem nem te conhecer e sempre oferecia uma cerveja. Você acabaria por se identificar mesmo sem ter nada em comum e discordar tendo o mesmo ponto de vista.

Aqui jaz a calmaria e lá ainda vive o garoto bomba relógio.



Jessy McLovin

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Into The Wild

Such is the way of the world
You can never know
Just where to put all your faith and how will it grow

Rise by Eddie Vedder on Grooveshark


Eu acho que não nasci pra vivenciar mudanças, embora faça parte delas.

Até ontem eu ainda tinha meu avô, um corpo sem tatuagens, um cabelo da cor natural, irmãos solteiros, muitos amigos e só precisava me preocupar em não repetir de ano e não perder nenhum episódio de Dragon Ball Z.

Hoje as preocupações aumentaram, as contas chegam em meu nome, não tenho mais um avô pra chamar de meu, sobrinhos correndo atrás de mim e apertando meu nariz, amigos que posso contar em uma única mão, um trabalho me esperando no começo do dia e mais tatuagens do que gostaria de admitir.

Nós sempre reclamamos que nada muda, que por maior que seja o esforço que você faz, tudo permanecesse sempre igual. Porém se você olha para trás nada está onde você deixou.
Amigos, família, emprego, aquele amor...


Antes havia tempo para tudo e todos conseguiam se encontrar. Hoje você precisar procurar um horário na agenda até para ouvir aquele disco novo que você comprou há meses. 
De repente não se tem mais assunto, não se anda mais pelas ruas que antes faziam parte do seu caminho, não se encontra mais as pessoas que antes faziam parte da sua vida. 
A foto que ontem era atual, hoje é velha. Os amigos que antes não tinham nem barba, hoje já tem filhos. 

Ainda não consegui entender a parte boa do tempo. Eles nos afasta, nos envelhece, nos tira uns dos outros, leva embora quem a gente quer que fique, estraga as nossas coisas bonitas. 
Talvez eu precise de tempo para descobrir sua beleza. 

Quando você para um pouco, para lembrar das coisas que se passaram, aquela memória linda, daquela noite bonita de lua na praia, você descobre que se passou um ano, talvez dois. 
Você lembra daquele amigo que tem saudade e descobre que fazem dez anos que não se veem. 
Aquela música que era a sua favorita, hoje soa engraçada e você se pergunta como conseguia gostar tanto dela.

Aquele amor do jardim de infância, do colégio, hoje só é parte de uma lembrança meio quebrada, meio turva.

Você acaba se tornando nostálgico mesmo sem querer. Porque as melhores coisas da vida já passaram. 
Novas aventuras virão e em breve essas novas já não serão mais tão novas e você as colocará na prateleira do que foi bom. 

O que é ruim a gente esquece. 
Acho que essa é a uma das partes boas do tempo. Ele se encarrega da responsabilidade de levar embora o que é ruim. 
Lembramos tanto do ruim, que quando tentamos lembrar de novo já se tornou tão incerto que você se pergunta como aquilo realmente aconteceu. 
O tempo guarda em sua caixinha todas as partes terríveis e promete só abrir de novo se você pedir. 

Eu me pergunto quase todos os dias como vim parar aqui, no dia de hoje, sendo como sou. 
Pois o planejado ficou só no papel. 
A felicidade vem e vai e quem importa sempre fica. A conta no banco continua ruim e a criatividade também. 
Ainda preciso da minha mãe para conseguir dormir toda vez que fico doente e meu pai ainda briga comigo por eu não saber dirigir. 
Ainda não sei assoviar, nem andar de bicicleta. 
Ainda choro de saudades do meus avós e ainda tenho a parede cheia de posteres. 
O rg continua dizendo que estou aumentando minha idade, minha cabeça continua velha e meu coração continua sendo da década que passou antes de eu nascer, meus sonhos continuam quase os mesmos e as ideias ainda teimam em nascer. 

Talvez nosso erro seja pedir demais por dias novos e diferentes, quando o que mais precisamos são dias exatamente iguais. 




- Jessy McLovin