Texto da Carolina Bizzi
Prefiro eu ser pessimista e me surpreender vez em quando a ser otimista e me frustrar todo o tempo. O corpo procura remédio para a alma em formato de cápsulas baratas e a alma encontra descanso num efeito placebo. Tudo volta pior no dia seguinte. Mais um dia, mais uma memória pra aumentar o histórico incongruente.
Não sinto muito por tudo isso. Sinto por tudo que ainda me faço passar. Passo por cima das minhas intenções e realizo as querências daquilo que é resto do que não congelou. Talvez eu ainda sinta algo, da mesma forma que alguém ainda sente que o errado é o correto e troca o certo pelo duvidoso.
Imaginando o inimaginável e inalcançável do pobre obscuro atordoado. Indecifrável e sempre alheio. Me mantem à deriva, aguardando por qualquer suspiro de existência ou de boa nova.
De vez em quando a cúpula de gelo responsável por bombear o sangue frio cospe coisas agradáveis às vistas, numa tentativa exacerbada de não explodir para todos os lados com seu conteúdo indecifrado. Quem sabe assim ela, a bomba, possa se fazer compreendida e não ser uma forasteira em terras recém-descobertas inapropriadamente.
Meu eu não o quis. A alma implorou por um meio sorriso. E não me surpreende tudo ter durado uma fração de segundo aos cansados olhos humanos. A cúpula gelada não enxerga (nem sente). A mente vivifica e remoe.
Tudo é encaminhado ao mesmo sistema automático. Acordar, esquecer, prosseguir.