sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sobre Alice.




Nossa realidade e nossas interpretações.

Não sou boa em desvendar mensagens em estórias (principalmente da Disney), mais desde que eu tinha uns 9 anos e já sabia ler muito bem, ganhei um livro desses com várias estórias da Disney, tinha todas, desde Pocahontas a Bela e a Fera- uma das minhas preferidas. E eu lembro que eu nunca gostava de ler Alice no País das Maravilhas, nunca entendia muito bem qualé a mensagem de toda a coisa.

Depois de um tempo, eu comecei a sacar as coisas, saquei os meninos, o coração batendo descompassado quando o garoto bacana entrava na sala, as notas vermelhas na escola, os beijos, os nãos, o sofrimento, a alegria e depois o ódio. E foi nesse tempo, nessa descoberta, que eu realmente entendi Alice no País das Maravilhas- e desde então, o nome da minha filha,se um dia eu tiver uma, será Alice. E as personagens de algumas estórias minhas são Alice-, Alice é sobre a adolescência- e depois de um tempo, quando eu sabia o que era internet e Google, eu pesquisei sobre isso e descobri que Alice é o que passamos na adolescência- , sobre os altos e baixos da vida, sobre escolhas, entendem?

Alice corre atrás do Coelho Branco, sempre tão pontual e impecável. Eu me questiono se na vida real corremos atrás do tempo, ou ele é quem corre atrás de nós, para tentar ajustar os ponteiros de nossas dúvidas,encontros,burradas, alegrias diárias. Ou se somos nós que o perseguimos para consertar algo ou apenas viver mais, buscando mais intensidade, mais aventura nas coisas mais mínimas de nossas vidas. Assim como Alice que persegue o Coelho e acaba no País das Maravilhas, onde ela começa seus altos e baixos, como na adolescência, a entrada súbita, algo inesperado, uma fase que acabamos lutando para finalizar, Alice encontra sua missão, seu destino, como nós aqui em cima, no mundo da realidade que enfrentamos cair em diversos buracos pra tentar achar alguma maravilha.

Absolem, a lagarta azul, a sábia. Como aquela(e) amiga(o) que recorremos quando as coisas ficam pra lá de feias, quando precisamos de algo como uma visão, palavras do que fazer no futuro, os melhores conselhos regados de bebida e nostalgia.


O chá que nunca acaba, a rotina que nos deixamos cair, esperando por algo que nos livre de tanto monotonia, descobrir o sentido nas coisas que parecem tão sem sentido às vezes. Não saber quem somos, confrontar-se no espelho com o cabelo sem pentear, camiseta do Pink Floyd e gritar pro seu reflexo “quem é você e que porra cê ta fazendo?”.

E enfim, quando descobri todas essas coisas e fiz relação com minha problemática adolescência eu contei tudo pra minha mãe, que me olhou horrorizada e perguntou se eu estava sofrendo tanto de amor assim por alguém. E eu disse que não, que sofrimento é coisa passageira, e que amor é cheio de altos e baixos, assim como a relação de Alice com o Chapeleiro Maluco- e isso aqui pode soar pra lá de nojentinho, mais eu sempre achei o Chapeleiro um puta pretendente, nunca o imaginei velho como nas ilustrações e agora, vendo o cara ser interpretado pelo Johnny Depp com olhos pra lá de verdes é pra fazer qualquer idiota sorrir banguela -, ora Alice está alto demais para o Chapeleiro, ora está baixa demais. E talvez vocês digam que a relação é apenas de amigos, e eu até acredito nisso, porque até amigos vivem em montanhas russas, enfrentando diversas coisas chatas e alegres, desencontros e encontros.

E quando somos jovens demais- como eu nesse dia 21 de abril- tudo parece ser muito alto e baixo demais,incrivelmente perto e longe ao mesmo tempo, todas nossas relações amorosas enfrentam turbulências e vôos calmos, onde não encontramos nenhuma garota(o) roubando quem amamos, nenhuma aeromoça está balançando os braços freneticamente e tudo parece tranqüilo mais de uma ora pra outra entramos numa nuvem e tudo meio que fode, saca?

A juventude é um campo de batalha, um jogo de xadrez, uma partida de baralho, um raciocínio constante como num cubo mágico.

O que eu quero dizer é que nossa vida, nossa juventude pode ser não ser lá um país das maravilhas com Chapeleiros Malucos com olhos freneticamente verdes e gatos fofos com nomes de cidade, mais um dia, um tropeço, um palavra dita mais alto, uma canção, um esbarrão podem nos levar ao tal país das maravilhas. E aviso desde já, que o país das maravilhas têm lá suas crises, assim como na vida real, onde nada é perfeito, e nos ferramos bastante pra conquistar alguma coisa, mais não custa tentar...e se mesmo tentando não der certo, nós nos permitimos raxar o bico depois.

Assim como Alice que pode ser uma estória interpretada de diversas maneiras, nossa vida também pode ser assim. Alguns podem me ver pela rua e pensar que eu tenho namorado e fumo, outros que não namoro e bebo muito, outros que sou antipática mais beijo bem...eu posso encontrar você pela rua e imaginar o que você pode estar pensando enquanto olha para o nada, o que você sente quando coloca as mãos nos bolsos da calça, o que você escuta nos fones de ouvido, eu posso imaginar toda a sua vida só olhando pra você, posso te interpretar da maneira que eu quiser, eu moldo, crio e exibo a mim mesma aqui dentro, na minha galeria de pensamentos.

A vida serve pra isso, ser retrata, interpretada da maneira que quisermos, assim, como Alice no País das Maravilhas que pode ser interpretada da maneira que cada um quiser, pode ter a moral que cada um quiser. Qualquer conto, estória fictícia- desde as com vampiros a Jesus casado com Madalena- carrega um “quê” de real, pois cada um tem o direito de ter a realidade que quiser.

Ou seja, o que eu quero dizer realmente, é que acreditar em livros, em contos, estórias fictícias e em garotas chamadas Alice caindo em buracos enquanto seguem um coelho branco é algo muito válido, pois no final, essa “ficção” toda que vemos em bibliotecas, estantes, quartos e salas carregam a realidade do mundo, carregam você, eu, meus pais, seus pais, o meu porteiro, o seu melhor amigo, seu cantor preferido. Carregam nossa vidas com a realidade que quisermos.



Stay Beautiful.
-Today how color are better for u?

p.s. da narradora:
tô gripada mais estou viva. sou brasileira e desisto sim, às vezes. eu tenho um namorado, eu fumo, sou antipática, bebo muito, beijo bem e não tenho um namorado,e não fumo,e não sou antipática, e não bebo muito. ainda penso numa realidade pra mim.

ouvindo crocodile’s clock_bob’s song/música/the ribbon/homem de lata

PriiiG

Um comentário:

  1. JJP, esse eu realmente fiz questão de ler desde o inicio até a última letrinha. Impressionante como você pode tirar lições de vida do mais ínfimo detalhe de estórias infantis (detalhe: "estórias" não existe mais...). Acho que você é uma gênia incompreendida... Ou melhor, nã oreconhecida, pois eu te compreendo. Mas definitivamente uma gênia. E acredito piamente que essas suas qualidades não devem ficar só no DNME. Pense do jeito que quiser.
    Peace All!

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