sofrer é mais clichê ainda.
É impossível- ele disse.
Então imaginem, a garota boba sentada em frente ao computador escrevendo freneticamente sobre algo que ela lá no fundo sabia que não iria acontecer. Como sempre, a voz do fundo sempre acerta. Acabei de escrever e antes de postar, resolvi checar a minha caixa de e-mail pela 14818154ª vez em uma hora, e lá estava, a tão aguardada (e temida) resposta.
Sabem o texto que eu ia postar? Foi automaticamente apagado depois de ter lido a resposta. Vocês devem pensar que fiquei decepcionada e corri pra geladeira atrás de vinho e sorvete. Erraram. Dessa vez eu me senti aliviada pra cacete, de um jeito que não me sentia há muito tempo- a última vez foi quando terminei meu namoro duradouro de 2 semanas-, como se tivessem tirado o mundo das minhas costas.
A verdade é que mulher gosta de sofrer, e sofrer tornou-se algo muito clichê nos dias de hoje, “ah estou triste”...”por que?”...” ah o Ricardão não retornou minha ligação”...”poxa, que canalha”. E eu já fui de clichê demais, já estourei minha cota de clichezices por vida.
Por que eu fiquei aliviada? No fundo- e essa é a mais pura verdade-, eu não queria um “sim” dele, eu nunca quero o “sim”. Pra mim só tem graça quando eu estou apaixonada, quando eu falo “sim, eu quero você” e não quando eles me dizem “sim, eu quero você” e caem de amores por essa narradora que vos fala – apesar de ser míope e baixinha, eu arraso corações quando passo em frente a alguma construção-, porque aí fode tudo e eu não vejo mais graça em nada. Eu gosto dos relacionamentos que eu crio na minha cabeça e não aqueles que eu vivencio e, com ele não seria diferente.
Eu sabia que iria cair de amores por ele no começo (mais uma vez) e depois de alguns dias iria querer expulsa-lo da minha vida. Assim, muito fácil. Eu senti que aquilo era apenas uma ilusão, ele preparou o terreno (mais uma vez) para o quase-sim e não me deu, entende? A verdade é que eu me dei conta de que ele também seria um amor clichê, assim como ele fez antes ele iria me fazer sentir que era a salvação da vida dele, que eu iria salva-lo da vida medíocre que ele leva. Mais eu não vou fazer isso, eu não posso.
Eu não quero me enfiar num rótulo com um cara que teve 2 anos ao meu lado e não soube o que fazer, nunca soube aliviar o meu sofrimento com a porra de um “sim”. Por mais que eu tenha acreditado que ele era a tampa da minha panela inox, ele não era, ele é apenas um cara, como qualquer outro que escreverá depoimentos bregas, sentirá uma necessidade ridícula de falar “eu te amo” a cada minuto no messenger, que não saberá o que conversar e o que fazer comigo. Eu me entedio fácil, e me entediei só com a desculpa meia-boca dele para o “é impossível”.
Resumidamente, apaguei esse cara da minha vida pra sempre, não respondi o e-mail e meu orgulho não está ferido. Ele na verdade não era o certo – e é uma pena que eu tenha desperdiçado dois anos da minha vida acreditando que ele era.
É como meu tio-super-sábio-fã-do-morrisey disse ontem pra mim enquanto eu bêbada reclamava disso com ele, eu serei uma pessoa indecisa, rejeitando rótulos até encontrar o cara que não será só um cara, eu não me sentirei bem com um italiano que prefere um amor com clichês e nem com outro cara que não me faça cair de cabeça na relação, aquele que cara que me tirará de cima do muro e me levará para o lado dele, entende? E meu tio disse mais: eu não devo sofrer toda vez por isso e nem devo me culpar por ser assim, essa é a minha autenticidade, é melhor ficar sozinha do que com um cara que eu realmente não me esforce pra gostar.
O cara certo um dia vai chegar e eu mesma vou me obrigar a vestir um rótulo, ele pode ser o skatista do meu condomínio, aquele rapaz que pega ônibus comigo e sempre me olha mais eu nunca o vejo porque o ônibus está cheio e eu sou míope, aquele rapaz que trabalha na pet shop e me vê passar por ali todas as segundas e quartas exatamente às 14h10. O cara certo vai aparecer e ele não virá em forma de e-mail,ele será uma exceção,como aquele filme que todo mundo odeia mais você gosta, como aquela música que você ouve escondido.
A verdade meus caros e caras é que amar é clichê, e sofrer é mais clichê ainda. Então, se for pra amar amem de verdade e se for pra sofrer, não sofra, encha a cara e continue a vida, sem desviar das pessoas, garrafas de vinho e músicas pop.
Seja um meio termo, como eu. E enquanto ele não chega, eu continuo atravessando ruas, cambaleando entre estórias e risadas, ouvindo músicas pop e vivendo, porque cazuza já disse que o tempo não para, e eu não sou ninguém pra discordar disso.
p.s. da narradora:
a little bit Nancy and Sid.
ouvindo: kyle andrews_find Love, let go
- PriiiG