terça-feira, 12 de janeiro de 2010

nem tão gigante assim.



Quando as coisas desabam. (mais uma vez)

Existem dias em que as coisas por aqui desabam. Dias em que meu cabelo preto não está bonito, minha conta bancária está em estado de alerta, não falo com meu pai há mais de uma semana, meus livros estão tomados pelo pó, assim como meus cd’s e dvd’s.
Sempre acreditei que todo mundo tem problemas familiares, financeiros e emocionais e dessa forma, nenhum problema deve ser desprezado por mais mínimo que ele seja. Aos olhos de algumas pessoas o meu problema de engolir o motivo da separação dos meus pais pode ser muito infantil mais esse é o meu problema, ele sendo infantil ou não, esse é o meu problema.
Aqui em casa nós sempre mantemos o copo meio cheio, meia alegria, meia tristeza... Mais às vezes, o copo transborda e então a tempestade chega.

Desde que eu me conheço por gente e membro da família Sousa, eu sei que nós todos aqui em casa não expressamos sentimentos e muito menos desabafamos nossos problemas, minha mãe é assim, meus tios, minhas tias e eu também sou assim. Por fora, eu sou a garota de cabelos pretos que sorri sempre mesmo que tudo esteja uma merda, eu não gosto de mostrar minhas fraquezas, tento dar uma de forte mesmo não sendo... Aqui dentro as coisas desabam. Eu tenho plena consciência de que já enfrentei problemas demais pela minha idade e que sinceramente muita gente não agüentaria o que eu vivi.

Eu tenho medo da solidão, de perder a graça, das pessoas me abandonarem e que meus discos não consigam preencher a lacuna da solidão em mim. Eu sei também que todo mundo enfrenta momentos de solidão, momentos de querer juntar todas as suas coisas e fugir da sua vida, de si mesmo... Sabe, não somos tão diferentes uns assim dos outros. Somos semelhantes, peças perdidas nesse mundo, peças que precisam se encontrar e juntar o mundo como no começo de tudo.

Eu não reclamo da vida que eu tenho hoje, eu tenho amigos maravilhosos pessoas que sabem como me fazer sorrir, sabem me telefonar, vir ao meu apartamento sem reclamar, que sabem quando eu estou triste com apenas um recado, pessoas que sabem o que eu sou, que eu não sou uma heroína, nem uma gigante, que eu tenho fraquezas, que eu sou apenas uma garota que ainda exibe as costas sem a tatuagem, os cabelos curtos e pretos, o sorriso estranho, a vontade de beber vinho diariamente, assistir televisão com minha vó e brincar de cabeleireira com a prima. E que sabem que ás vezes eu vou querer ser mimada e egoísta e me permitir ficar sozinha, na minha solidão, imaginando uma solução-sim, como na música da Cachorro Grande.

Às vezes eu tenho vontade de ser como Christopher McCandless, que parte para o Alasca largando tudo o que o sufoca. Mais ai eu penso que eu não quero cometer o mesmo erro que ele, que me isolar não é a solução para tudo, que a vida é como o mar que lhe dá golpes duros, que às vezes tudo estará calmo e do nada surgirá uma onda te derrubando, temos que nadar contra isso, a vida é isso nadar e lutar, porque são nesses momentos que nós nos encontramos. É como o próprio Chris diz: “os únicos presentes do mar são golpes duros e, às vezes, a chance de sentir-se forte. Eu não compreendo muito o mar mas sei que as coisas são assim por aqui. E também sei como é importante na vida não necessariamente ser forte mas sentir-se forte, confrontar-se ao menos uma vez, achar-se ao menos uma vez na mais antiga condição humana, enfrentar a pedra surda e cega a sós sem outra ajuda além das próprias mãos e da cabeça”

A verdade é que não existe solução para todos os problemas do mundo, só existe a esperança. Eu só tenho a esperança de que quando as coisas desabam, de que quando a tempestade chega eu terei forças pra abrir o guarda-chuva e esperar tudo se acalmar.
Eu quero fazer tudo o que eu tenho vontade de fazer, não quero me sentir pressionada, obrigada a fazer algo que não quero. Eu quero sorrir todos os meus sorrisos, sentir a alegria até na raiz dos meus cabelos, deitar no sofá e conversar com a minha vó feliz por saber que aquele momento sempre será meu, beber vinho todas as sextas feiras com a minha tia enquanto rimos, quero me sentir como o menino que finge ser um príncipe que sobe na pedra empunhando uma espada maior do que ele mesmo, sem tremer nem nada. Fazer compras com a minha mãe, ir à outra cidade encontrar duas grandes amigas, assistir o mesmo filme duas vezes, ler o mesmo livro, ver meus amigos e me sentir muito bem por saber que sempre me sentirei bem com eles. Eu quero sentir o copo transbordar às vezes e abrir o guarda-chuva pra mim e pra outra pessoa esperando a tempestade passar. Eu quero me sentir forte, mesmo que eu não seja uma gigante.


P.S. da narradora:
Planos, nada de gigantes.

Ouvindo death cab for cutie_marching bands of Manhattan
stay beautiful,
JJP

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